Temido por alguns pacientes, mas por outros mais um exame qualquer da rotina do casal tentante, o Espermograma é um exame essencial para avaliação da fertilidade masculina. Temido, pois muitos homens, por várias questões (culturais, religiosas, emocionais ) não conseguem colher o material, o qual é feito através da masturbação. O coito interrompido não é um método de coleta recomendado e, a maioria dos laboratórios, não aceitam colher o sêmen em casa.
Para uma análise adequada, são recomendas avaliações de duas a quatro ejaculações com diferença de duas a três semanas entre as coletas. Historicamente, recomenda-se em período de abstinência de 02 a 07 dias, porém trabalhos recentes sugerem que apenas um dia de abstinência é o suficiente.
O objetivo desse exame é inferir ou estimar o potencial de fertilidade do ejaculado, além de determinar se o ejaculado é potencialmente fértil ou não. Valores de referência abaixo do esperado são indicadores de infertilidade, porém valores dentro da normalidade não estabelecem fertilidade. O único resultado definitivo é a ausência de espermatozoides no ejaculado. E é importante considerar que variações podem ocorrer entre os exames de um mesmo paciente e, portanto, uma avaliação cuidadosa do espermograma deve ser sempre feita.
A análise seminal básica é composta por duas partes:
- Macroscópica: avaliação da aparência, coagulação, liquefação, cor, odor, viscosidade e volume;
- Microscópica: aglutinação, concentração, mobilidade, morfologia e elementos não espermáticos.
Avaliação macroscópica:
Avaliação da aparência:
- Transparente, translúcida ou opaca. Sem valor clínico.
Coagulação e liquefação:
Normalmente, o esperma coagula logo após o ejaculado e se liquefaz entre 15 a 20 minutos. A falta de coagulação pode indicar obstrução do ducto ejaculatório ou malformação congênita das vesículas seminais.A liquefação é considerada anormal se não ocorrer em 120 minutos e pode ocorrer por alterações na secreção prostática.
Cor e odor:
Branca acinzentada, branca perolada ou amarelada. O odor é sui generis por causa da oxidação. Qualquer alteração da coloração não é esperada. A icterícia pode tornar o sêmen amarelo, as hemácias os tornam vermelhos, a urina altera o cheiro e a cor, drogas podem colorir o sêmen. O caroteno pode tornar o sêmen amarelado.
Viscosidade:
A relação entre viscosidade e fertilidade não é muito bem esclarecida, mas alta viscosidade associado à motilidade reduzida pode diminuir a fertilidade de forma significativa.
Volume:
O sêmen é composto primariamente de secreção de glândulas acessórias, como as vesículas seminais. Varia de 2 a 4 ml. Pode ser classificado em:
Aspérmico: ausência do ejaculado. Causas: alguns medicamentos, algumas cirurgias na próstata, diabetes, algumas cirurgias intestinais, enfim;
Hipospérmico: volume menor que 0,5 ml. Algumas causas:
- Se associado à ausência de espermatozoides e pH < 7,4: obstrução do ducto ejaculatório ou alteração congênita da vesícula seminal; Se associado à ausência de espermatozoides e pH > 7,8: hipogonadismo;
- Com espermatozoide e pH < 7,4: obstrução do ducto ejaculatório ou alteração congênita da vesícula seminal; Com espermatozoide e pH > 7,8: ejaculação retrógrada parcial, medicamentos ( oximetolona, tiriodazina, fenoxibenzamina e guanetidina ), drogas ( heroína ou metadona ).
- Hiperespérmico: volume maior do que 6,0 ml. Associado à hiperprodução de vesícula seminal ou períodos longos de abstinência.
Análise microscópica:
Elementos não celulares:
- Leucócitos: pode ter origem prostática ou de glândulas acessórias. Podem alterar a motilidade espermática em pacientes subférteis;
- Eritrócitos: não afeta a fertilidade. Podem ter causas inflamatórias, obstrutivas, neoplásicas, vasculares ou iatrogênicas;
- Células epiteliais: associadas à descamação do epitélio uretral ou do meato. Sem significância clínica;
- Microorganismos: em pequenas quantidades são comuns. Em grandes, deve ser feito investigação de infecção;
- Precursores espermáticos: espermátides, espermatócitos e espermatogônias estão relacionados a redução do potencial de fertilidade.
Aglutinação espermática:
Dois tipos: sítio específica e não específica.
- Sítio específica: relacionada com causas imunológicas e devem ser investigadas;
- Não específica: sem significância clínica.
Concentração e contagem espermática:
Criptozoospermia: espermatozoides encontrados apenas após centrifugação da amostra;
Azoospermia: ausência de espermatozoides no ejaculado. Classificados quanto à causa:
- Obstrutiva: obstrução ou ausência congênita dos ductos deferentes / vesículas seminais;
- Hormonal: hipogonadismo primário ou secundário;
- Genética: alterações cromossômicas, Síndrome de Klinefelter( XXY );
- Medicamentosa: ciclofosfamida, bussulfano, clorambucil, vincristina, metotrexato, sulfassalazina e colchicina;
- Infecciosa;
- Sertoli cell – Only syndrome;
- Parada de maturação espermática: causa desconhecida.
Oligozoospermia: menos de 15 milhões de espermatozoides por ml do ejaculado. Causas:
- Orgânica: obstrução parcial, ejaculação retrógrada parcial, hiperprolactinemia, varicocele, criptorquidia, diabetes e esclerose múltipla;
- Congênita: microdelações do Y ( AZF );
- Medicamentosa: nitrofurantoina, oximetolona, testosterona, estanozolol, olsalazina e guanitidina.
Azoospermia e oligozoospermia: outras causas.
- Estresse térmico: após 30 dias de febre podendo chegar até 70 dias. Algumas ocupações: taxistas, bombeiros, cozinheiros, caminhoneiros, trabalho em fornaças;
- Congênita: deleção do braço longo do cromossomo Y;
- Medicamentosa: espironolactona, sulfassalazina, nitrofurantoína, niridazo e colchicina;
- Drogas: álcool, nicotina, morfina, anabolizantes, 1,2-dibromocloropropnano e dibromido etileno ( agrotóxicos );
- Obesidade e sobrepeso.
Motilidade espermática:
Divididos em motilidade progressiva, não progressiva e imóveis. Não há mais a divisão entre progressiva rápida ou lenta.
Astenozoospermia é definida como taxa de espermatozoides menor que 40% em 60 minutos. Possíveis causas:
- Fatores clínicos: infecções no trato genital;
- Congênitos: Síndrome de Kartagener;
- Fatores imunológicos: anticorpos antiespermatozoides;
- Idiopático.
Análise morfológica:
Atualmente, utiliza-se a morfologia estrita de Kruger, sendo o valor de referência de normalidade maior que 4%. Possíveis causas:
- Clinicos: febre, varicocele e reações alérgicas;
- Medicações: nitrofurantoina e furadantina;
- Estresse psicológico persistente;
- Fatores físicos: estresse térmico;
- Congênito: microdelação do cromossomo Y.
De forma isolada, não se relaciona com redução da fertilidade. Contudo, defeitos morfológicos estão associados ao aumento da fragmentação de DNA e a anormalidades cromossômicas.
Fragmentação de DNA:
A fragmentação de DNA é um processo natural de células e está associado a taxa de fertilidade e de aborto. Estima-se que, quanto maior a fragmentação, menor a chance de conseguir engravidar e maiores as taxas de aborto. Dividida em:
- Maior que 30%: diminuição significativa da feritilidade;
- Entre 15 e 30%: razoável fertilidade;
- Menor que 15%: alta fertilidade.
O espermograma, enfim, tem o propósito de inferir o potencial de fertilidade. Variações importantes podem ocorrer entre ejaculações consecutivas de um mesmo paciente e, por isso, é muito importante associar à historia clinica e o exame clinico.